Ladainhas

Nego Veio – Mestre Joel

Nego veio de Angola tu veio para assinar
Tu trouxe Capoeira e candomblé e Ogum
E o rei dos orixá
Eh viva meu mestre
Eh é hora é hora
Eh galo cantou
Eh viva Bahia
Eh viva seu Bimba
Eh viva Pastinha
Eh volta do mundo

Riachão tava cantando – Domínio público

Riachão tava cantando
Riachão tava cantando
o meu bem
Na cidade do Açú
Quando apareceu um negro
o meu bem
da espécie de urubu
Tinha camisa de sola
Calça de couro cru
Beiços grossos e virados, o meu bem
como a sola de um chinelo
Um olho muito encarnado
o outro bastante amarelo
Ele chamou o Riachão, o meu bem
para vim cantá martelo
Riachão arrespondeu
eu aqui não tô cantando, o meu bem
com nego desconhecido
Ele pode ser cativo
e andar aqui fugido

Camaradinha

Quatro coisas neste mundo – Mestre Valdemar

Quatro coisas neste mundo
Quatro coisas neste mundo
Que aperreia o cidadão
Uma casa com pingueira
E um cavalo chotão
E u’a mulher ciumenta
E um menino chorão
Tudo isso se dá jeito
O cavalo eu negoceio
Menino se aquelenta
Casa eu reteio
E a mulé me cai na peia
Camaradinho
Aruandê
E, Aruandê, camará
Água de beber
Iê, água de beber, camará
Ferro de bater,
Iê, ferro de bater, camará

O Valente Vilela – Mestre Waldemar

Iê!
Senhores, peço licença
Senhores, peço licença, o meu bem
Para lhes conta uma história

O valente Vilela, o meu bem
Trago sempre na memória
Evitou-lo quinze anos
Sempre a canção da vitória

Ali tinha um capitão, o meu bem
Um sujeito muito ousado
Disse eu vou na Serra Torta
Trago Vilela amarrado

No outro dia bem cedo
Marcharam para o lugar
Onde morava Vilela, o iaia
O povo foi ensinar
Chegou lá o capitão

Mandou a casa cercar
Cercaram ali a casa
Ficaram de prontidão
Vilela abre a porta, o meu bem

Por ordem do capitão!
Você hoje tâ dai, ô meu bem
direitinho para Prisão
Vilela tava em casa
Sem nada disso saber
Porque vocês vão se embora

Não venham me aborrecer
Responda me soldado, ô iaia
Matar ou Morrer?
Responda me soldado
Se veio matar ou morrer?
O soldado arrespondeu

Não vim matar nem morrer
Ta enganado sujeito
Por ordem do delegado, o meu bem
Por ordem do juiz de direito
Você hoje me dá conta
Das mortes que já tem feito

Eu aqui na Serra Torta
ja brigo bem no comum!
Por mim quem mata cem
também mata cento um!

Camara

Lá no céu vai quem merece – Mestre Valdemar

Lá no céu vai quem merece
Na terra vale quem tem
A soberba combatida
Foi quem matou Pedro Cem
Deus é pai de nós todos
E eu não sou pai de ninguém
Lá se foi minha fortuna
Exclamava Pedro Cem
Ontem eu fui milionário
Já tive e hoje não tenho
O que ontem me valia
Hoje nem valia tem
Ele dizia nas portas
Uma esmola a Pedro Cem
Quem já teve hoje não tem
A quem eu neguei esmola
Hoje me nega também
Nasceu num berço dourado
Cresceu num colchão macio
Hoje eu morro no relento
Neste mundo e chão frio
A justiça examinando
Os bolsos de Pedro Cem
Encontrou uma mochila
Dentro dela um vintêm
E um letreiro que dizia
Já teve, hoje não tem
Camaradinho
Iê Aruandê