Nego veio de Angola tu veio para assinar Tu trouxe Capoeira e candomblé e Ogum E o rei dos orixá Eh viva meu mestre Eh é hora é hora Eh galo cantou Eh viva Bahia Eh viva seu Bimba Eh viva Pastinha Eh volta do mundo
Riachão tava cantando Riachão tava cantando o meu bem Na cidade do Açú Quando apareceu um negro o meu bem da espécie de urubu Tinha camisa de sola Calça de couro cru Beiços grossos e virados, o meu bem como a sola de um chinelo Um olho muito encarnado o outro bastante amarelo Ele chamou o Riachão, o meu bem para vim cantá martelo Riachão arrespondeu eu aqui não tô cantando, o meu bem com nego desconhecido Ele pode ser cativo e andar aqui fugido
Quatro coisas neste mundo Quatro coisas neste mundo Que aperreia o cidadão Uma casa com pingueira E um cavalo chotão E u’a mulher ciumenta E um menino chorão Tudo isso se dá jeito O cavalo eu negoceio Menino se aquelenta Casa eu reteio E a mulé me cai na peia Camaradinho Aruandê E, Aruandê, camará Água de beber Iê, água de beber, camará Ferro de bater, Iê, ferro de bater, camará
Iê! Senhores, peço licença Senhores, peço licença, o meu bem Para lhes conta uma história
O valente Vilela, o meu bem Trago sempre na memória Evitou-lo quinze anos Sempre a canção da vitória
Ali tinha um capitão, o meu bem Um sujeito muito ousado Disse eu vou na Serra Torta Trago Vilela amarrado
No outro dia bem cedo Marcharam para o lugar Onde morava Vilela, o iaia O povo foi ensinar Chegou lá o capitão
Mandou a casa cercar Cercaram ali a casa Ficaram de prontidão Vilela abre a porta, o meu bem
Por ordem do capitão! Você hoje tâ dai, ô meu bem direitinho para Prisão Vilela tava em casa Sem nada disso saber Porque vocês vão se embora
Não venham me aborrecer Responda me soldado, ô iaia Matar ou Morrer? Responda me soldado Se veio matar ou morrer? O soldado arrespondeu
Não vim matar nem morrer Ta enganado sujeito Por ordem do delegado, o meu bem Por ordem do juiz de direito Você hoje me dá conta Das mortes que já tem feito
Eu aqui na Serra Torta ja brigo bem no comum! Por mim quem mata cem também mata cento um!
Lá no céu vai quem merece Na terra vale quem tem A soberba combatida Foi quem matou Pedro Cem Deus é pai de nós todos E eu não sou pai de ninguém Lá se foi minha fortuna Exclamava Pedro Cem Ontem eu fui milionário Já tive e hoje não tenho O que ontem me valia Hoje nem valia tem Ele dizia nas portas Uma esmola a Pedro Cem Quem já teve hoje não tem A quem eu neguei esmola Hoje me nega também Nasceu num berço dourado Cresceu num colchão macio Hoje eu morro no relento Neste mundo e chão frio A justiça examinando Os bolsos de Pedro Cem Encontrou uma mochila Dentro dela um vintêm E um letreiro que dizia Já teve, hoje não tem Camaradinho Iê Aruandê